O objetivo da educação é a virtude e o desejo de converter-se num bom cidadão.
(Platão)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Contribuições de Piaget sobre a Psicomotricidade no Processo de Alfabetização

Foi um célebre biólogo suíço nascido em 1896 e que veio a falecer em 1980. Inicialmente dedicou seus estudos a área da biologia, mas interessava-se também por estudos nas áreas de filosofia, religião sociologia e psicologia, e mais tarde dedicou-se a Epistemologia Genética (do desenvolvimento e conhecimento do ser humano). Piaget é reconhecido pelo seu trabalho de organizar o desenvolvimento cognitivo em estágios; seu estudo fora feito por meio da observação de crianças, dentre elas seus 3 filhos.
Sua teoria era de que o conhecimento é construído por cada sujeito na interação com seu ambiente. Dessa forma, procurou identificar como o homem constrói seu conhecimento, como ele o procura, organiza e assimila a seu estado anterior de conhecimento, ou seja, a gênese do conhecimento, defendendo então que as pessoas passariam por estágios de desenvolvimento.
Isso aconteceria por meio da equilibração que se configura entre a assimilação e a acomodação, resultando em uma adaptação ao mundo exterior. A assimilação aconteceria vinda do mundo exterior e na acomodação o processo é inverso, acontecendo de dentro da criança para fora. Pulaski (1986) coloca a assimilação como um processo de entrada, tanto de sensações como de experiências e a acomodação um processo de saída, de dirigir-se ao meio.
Segundo Piaget, a inteligência seria o resultado dessa adaptação, nesse sentido seria por meio da experiência como ação que as pessoas passariam a transformar o mundo e a incorporá-lo, portanto pode-se afirmar que por meio da motricidade o indivíduo integra-se ao mundo exterior e o modifica, assim como a si próprio (FONSECA, 2008).
A adaptação para Piaget não era um processo passivo, “é um processo dinâmico e contínuo no qual a estrutura hereditária do organismo interage com o meio externo de modo a reconstituir-se, com vistas a uma melhor sobrevivência” (PULASKI, 1986, p.22). Neste mesmo sentido Fonseca (2008, p.76) aponta que:

Piaget possui uma visão da inteligência ou da cognição humana como uma adaptação biológica especifica de um organismo complexo a um envolvimento igualmente complexo, um sistema cognitivo extremamente ativo, que seleciona e interpreta a informação do envolvimento à medida que constrói o seu conhecimento.

Essa adaptação biológica é formada, como já dito anteriormente, pela assimilação e pela acomodação, que muito embora sejam componentes distintos estão intimamente ligados. Ainda para Fonseca (2008, p.77):


[...] a assimilação sugere, portanto, um processo de adaptação dos estímulos externos às estruturas mentais internas do sujeito, enquanto a acomodação sugere um processo complementar de adaptar essas estruturas mentais a estruturas dos mesmos estímulos. Trata-se de dois aspectos extremamente interdependentes, inseparáveis e de igual importância, mas integrantes de um mesmo processo cognitivo, sugerindo uma constante e vital interação e colaboração entre o interno-cognitivo e o externo-ambiental, ambos mutuamente contribuinte para a construção do conhecimento.

É um processo no qual o funcionamento desses componentes ocorre simultaneamente e que possibilitam tanto o desenvolvimento mental como o físico. Na assimilação ocorre à incorporação das experiências novas aos esquemas de ação e conhecimentos já existentes e na acomodação a pessoa precisa modificar seus esquemas preexistentes ou criar novos para poder assimilar novos acontecimentos. Os novos esquemas, ou os preexistentes, assim que se adaptam a uma nova realidade proporcionam uma nova forma de organização. Essa nova organização é a resultante das alterações sofridas pelas antigas e que proporcionam esquemas mais abrangentes aos dados exteriores. É um processo de reorganizações internas em série, a chamada equilibração majorante. (MONTOYA, 2004).
Nesse processo de reorganizações sucessivas e de forma gradual que se caracteriza o pensamento da criança desde o período sensório motor até chegar ao pensamento formal. A aprendizagem que é caracterizada pela relação perpétua entre a assimilação que utiliza as funções sensoriais e a acomodação que se vale do uso motor, preferencialmente. Portanto a questão da motricidade está claramente explícita na obra de Piaget, conforme explica Fonseca (2008, p.78):


A criança estabelece, assim, a relação com o mundo exterior através da circularidade entre as percepções (assimilação) e as ações (acomodação), e é o conjunto de adaptações que, na sua circulação corporalizada pela motricidade, irá transformar a inteligência prática e sensório-motora em inteligência reflexiva e gnósica.

A motricidade na obra de Piaget tem papel de extrema importância na construção da imagem mental, ou seja, na questão da representação. Para a formação dessa representação é preciso que tenha acontecido a experiência vivida com o objeto, a ação direta com ele, ou seja, o movimento que se pratica transformando esse objeto por meio de processos sensório-motores. É um período que Piaget denomina como “inteligência prática”, no qual a criança passa a imitar e representar as situações as quais vivencia e que são interiorizadas como imagens mentais (PULASKI, 1986).
Conseqüentemente,


[...] as atividades sensório-motoras passam, com a integração da experiência, a atividades perceptivo-motoras, tornando possível a interiorização das imagens mentais que, por sua vez, constituirão, como primeiras estruturas operacionais, o suporte da linguagem e da reflexão (DANTAS, 1992, apud FONSECA, 2008, p.81).

Esse período perceptivo-motor, o chamado pré-operatório, é uma fase marcada pela representação simbólica, na qual a criança passa a praticar o jogo do “faz-de-conta”, e ao imitar a fala, o comportamento e as ações dos adultos aprendem a se ajustar as novas situações do seu mundo (PULASKI, 1986).
Seguido a esse período, as ações das crianças passam a ser compreendidas por elas, por meio de esquemas operacionais. A representação passa a ter uma perspectiva mais elaborada, pois agora o objeto só terá sentido para a criança se ele for utilizado de forma significativa e essa função de utilização é sinônima de conhecimento e “são consequências das ações que a criança pode realizar e produzir o objeto” (FONSECA, 2008, p. 83). Fonseca (2008) coloca ainda que seja seguindo este raciocínio que Piaget usa o termo esquema de ação “O objeto virá a ser conhecido como objeto permanente na razão direta da variedade e complexidade dos esquemas de ação que a criança tiver adquirido e assimilado à sua estrutura mental”.
Portanto quando um objeto passa a incorporar um esquema de ação, essa ação passa a ter uma estrutura cognitiva. Com isso é imprescindível apontar que:


Efetivamente, ao dar-se uma estrutura cognitiva à ação e a motricidade, a inteligência tem de coordenar a ação, de forma a acomodar-se ao objeto ou ao real. A criança, acomodando-se ao real e aos objetos, conhece-os, simboliza-os e pode representá-los. Mais uma vez, a motricidade é a estrutura de troca e de relação que permitirá à criança assimilar e acomodar-se ao real e aos objetos. O pensamento da criança é inteligente quando se apóia no real ou nos objetos, pois só pela ação e pela motricidade poderá assimilá-los e acomodá-los (FONSECA, 2008, p.84).



Seguindo esse pensamento, e, mais uma vez colocando em primeiro plano a importância da motricidade na construção da inteligência, haja vista, há justiça em afirmar, que é pela motricidade, que as representações se criam, se estruturam e reestruturam.
Piaget revolucionou a área da educação, mesmo nunca tendo atuado como pedagogo e muito menos criado um método de ensino. Mesmo assim, suas contribuições foram fundamentais para que profissionais da área pudessem tomar conhecimento do processo de desenvolvimento e aquisição do conhecimento da criança e dessa forma, pudessem auxiliá-las, atuando nesse processo de maneira mais objetiva e satisfatória.


REFERÊNCIAS

FONSECA, Vitor da. Aprender a Aprender: A Educabilidade Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998.

______. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.

MAHONEY, Abigail Alvarenga. A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo, Edições Loyola: 2004.

PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

PULASKI, Mary Ann Spencer. Compreendendo Piaget: uma introdução ao desenvolvimento cognitivo da criança. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1986.
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. 14ª Edição.

Um comentário:

  1. Bom dia, Debora!

    Sou estudante do quarto semestre de psicologia e estou fazendo um trabalho sobre Piaget(o que, aliás, é muito interessante). Como bibliografia vou utilizar dois livros do próprio: "O Nascimento da Inteligencia da Criança" e "Seis Estudos de Psicologia" os quais já estou lendo... e tenho muito interesse em ler o livro de Pulaski "Compreendendo Piaget", no entanto este eu não possuo, será que você poderia me auxiliar, talvez me dando uma explicada do que é dito no livro?

    Sei que pode parecer muita "cara de pau", mas li as primeiras 40 páginas do livro de Pulaski e o achei ótimo, e como não tenho dinheiro para adquiri-lo fico só na vontade.

    De qualquer forma agradeço pela atenção.

    Ah! Também tenho um blog, no qual trato de assuntos diversos:
    misturebabrasilspab.blogspot.com

    Sinta-se a vontade para visita-lo e deixar suas opiniões.

    Até logo!

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