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(Platão)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Contribuições de Ajuriaguerra - Psicomotricidade

Ajuriaguerra nasceu na Espanha em 7 de janeiro de 1911 e morreu em 1993; formou-se em medicina na França, e viveu durante muito tempo na Suíça. Foi ele quem redefiniu o conceito de debilidade motora, passando a considerá-la como sendo uma síndrome com suas próprias particularidades. E sendo assim, delimitou os transtornos psicomotores que transitam nas esferas do neurológico e do psiquiátrico. Essa foi uma enorme contribuição, pois com isso possibilitou que a Psicomotricidade adquirisse sua especificidade e autonomia em relação às demais disciplinas, consolidando desta forma as bases da evolução psicomotora.
Ajuriaguerra (1976) tem a sua atenção, ao desenvolvimento da criança, voltada para a relação do corpo com o meio. Ele defende que a evolução da criança ocorre pela conscientização dela em relação ao seu corpo e trata o corpo como uma unidade essencial para o desenvolvimento da esfera mental, afetiva e motora. A organização e construção da personalidade são efetivadas por meio das experiências corporais conquistadas na vivência da criança (COSTALLAT, 2002).
Quanto à concepção de corpo, indica que ele não seria apenas um instrumento utilizado para a construção e para a ação, além disso, é a forma como se comunica com o meio, com o social. Ao contrário do pensamento da dualidade entre o corpo e a alma, Ajuriaguerra afirma que a criança é seu corpo, como já dito, ela se desenvolve tendo a consciência sobre ele. É por meio de seu corpo que a criança expressa seus sentimentos, suas necessidades e suas emoções. Para Ajuriaguerra (1956, 1961, 1962, 1972, 1974, 1976, 1978, 1980, 1981 apud FONSECA, 2008, p.104):


[...] a evolução da criança é sinônimo de consciencialização e de conhecimento cada vez mais profundos do seu corpo, ou seja, do seu eu total. É com o corpo, diz-nos este autor, que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza a sua personalidade única, total e evolutiva [...].

O pesquisador introduz um conceito muito importante, a expressão “Somatognosia” (gnosia, reconhecimento do soma, do corpo) “é entendida como a tomada de consciência do corpo na sua totalidade e respectivas partes, intimamente ligadas e inter-relacionadas com a evolução dos movimentos intencionais, isto é, a tomada de consciência do corpo como realidade vivida e convivida” (FONSECA, 2008, p.109).
Outro aspecto importante abordado por Ajuriaguerra seguindo os argumentos de conscientização do corpo é o da ilusão do membro fantasma no amputado, quer dizer com isso que mesmo que a pessoa venha e ter um membro amputado, a consciência da totalidade do corpo ainda perdura. Ele define o membro fantasma “como o resíduo cinestésico do membro (ou parte do corpo) anatomicamente ausente” (FONSECA, 2008, p.107).
Seguindo nas suas contribuições teóricas de conscientização do corpo, ele aborda a questão da apraxia. A praxia é a coordenação normal dos movimentos. Em contrapartida, a apraxia é a desordem de ordem neurológica que provoca a perda da habilidade em executar os movimentos, e nas palavras de Ajuriaguerra (1964 apud FONSECA, 2008, p.117) “a apraxia constitui a incapacidade de elaborar, controlar e de executar a ação propriamente dita”.
Ele afirma que o ato precisa tanto de um plano como de uma programação, isso quer dizer que “toda a ação intencional necessita de uma planificação motora prévia e antecipada (de certa forma, expressão sinônima de psicomotricidade) que a guia para uma execução programada” (FONSECA, 2008, p. 117). Com isso quer dizer que, a apraxia, representaria uma dificuldade em ordenar o plano mental de ação com a efetivação da ação motora.
Com relação à evolução da criança e consequentemente, sua organização psicomotora, Ajuriaguerra descreve três fases. A primeira delas, denominada como organização psicomotora de base, que tem no seu cerne a questão da função postural: em que o recém–nascido carrega consigo elementos fisiológicos e sensórios que ele manifesta através dos reflexos, como sendo “memória da espécie”. Evolutivamente tem-se a fase da organização da planificação motora (somatognosia), sendo a fase de incorporação das vivências e experiências e de motricidade já psiquicamente elaborada ajustada na dimensão de tempo e espaço: não mais na forma de intuição, mas de movimentos auto-regulados, coordenando informações interiores com dados exteriores de maneira concisa, nesse momento inicia-se, portanto movimentos com intencionalidade e de ordem social. Finalmente tem-se a fase da automatização, da praxia; a automatização das práticas motoras, ou seja, a interiorização das aquisições motoras que se adaptam e geram competências que se tornam base do desenvolvimento psicomotor da criança. Concretiza-se em uma motricidade práxica, dotada de inteligência, precisa e eficaz, que possibilita uma expressão tanto corporal como motora mais ajustada e segura. (FONSECA, 2008).

REFERÊNCIAS:

COSTALLAT, Dalila M.M. de. Exercícios psicomotores básicos de Educação Tônica para a otimização da aprendizagem formal da escrita. In: A psicomotricidade otimizando as relações humanas. São Paulo: Arte & Ciência, 2002. 2.ed. O.N.P. Oedem Nacional dos Psicomotricistas.

FONSECA, Vitor da. Aprender a Aprender: A Educabilidade Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998.

______. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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